Sim, podia ser preguiçoso como sou e esperar para escrever o meu veredicto sobre este filme uns dias, para quem não diz semanas, mais tarde no meu moleskine. Talvez tratando-se mesmo de um bom filme iria ficar para lá esquecido e nunca viria para o blog. Mas não! achei que pura e simplesmente este filme não merece isso. Devo dizer aquilo que sinto mal saí da sala e assim fiz...
Alexandria, séc. IV, um mosaico de religiões que não se entendem. Arrastam-se multidões convictas de que o seu Deus é o mais justo, o melhor, o mais fraterno e por isso estarão dispostas a matar, degolar e estripar quem não o veja e aceite como tal.
O filme é histórico, relata um episódio tão triste e importante que foi a destruição da biblioteca mais importante da Antiguidade - a Biblioteca de Alexandria. Suas fortunas intelectuais e filosóficas, perdidas para sempre tal como todos nós perdemos um bocado de nós com elas são incalculáveis.
Deve-se a isso um jogo de mortes. No fundo não passa disso, um jogo. Multidões exaltadas com uma emboscada dos cristãos aos pagãos. Depois a resposta dos pagãos com mais umas cabeças cristãs cortadas e por aí fora. Quem apareceu primeiro, o ovo ou a galinha? O mesmo esquema se aplica. Ninguém tem razão e o pesadelo dura desde que foram inventadas as religiões até aos nossos dias. Até podíamos encarar como uma questão simples tudo isto se não estivessem em causa as casas que supostamente deveriam doutrinar os maiores valores da nossa tão cruel humanidade.
Vemos o filme e estamos sempre do lado de quem sofre, no fundo é isso. Vestimos a pele de judeus, cristãos e pagãos e vemos que a raiva não leva a nada nenhum.
Tantas interpretações do mesmo Deus, tantas verdades incontestáveis, tanta razão absoluta... Porque é que o nosso Deus é sempre o mais correcto? Porque não podemos parar para pensar um pouco em como no fundo todas as religiões têm algo em comum: todas têm deuses que criaram o Homem. Deus até pode existir, mas é uno, a sua prova está em nós, seres humanos e nos nossos sentimentos mais bonitos. Está na nossa união e no dever de proteger as coisas belas do nosso mundo porque nada vem sozinho. Fazemos parte de um sistema que é a Terra que faz parte de um sistema que é o Mundo. É impossível matematizar como esse sistema funciona e aí reside a prova de existência de um ser que, superior ou não, não deve ser estudado nem explicado. Deve ser amado. A melhor forma de o fazer? fazermos aquilo que está certo enquanto seres inteligentes: Protegermos o nosso legado, protegermos a Natureza.
Nunca vi um filme que abordasse esta questão tão maravilhosamente e ao mesmo tempo que combine tal com outras questões como o papel da mulher na sociedade, o papel dos escravos e a fugacidade que dura uma crença. Não percam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário