terça-feira, 30 de junho de 2009

O Muro do gosto do choro

(2008)

Caem, Caem, formando rios...
Políticas, religiões e afins...
Amores, estudos, tempos frios...
Tudo corre com uma calma...
Aquece-os a caldeira da alma.

Tudo bóia e se deixa levar,
Não há luta contra a corrente.
Tudo corre, apenas, assim!
Até parece que há regozijo no que bóia,
Pois não há luta alguma em mim

Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

Ensaio sobre a cegueira - Filme

(06/12/2008)



Uma obra-prima do cinema que aborda diversas áreas da humanidade com uma genialidade fora-de-série.

Adaptando ao grande ecrã a obra com o mesmo nome, de José Saramago, a filmagem e a fotografia do filme é perfeitamente bem enquadrada na sua temática: A cegueira de um branco intenso, o que nos dá a sensação dela mesmo. Os actores são quase todos nomes emergentes do cinema e a acção do filme é cativante e viciante até ao fim. Mas o verdadeiro interesse no do filme está mesmo naquilo que aborda, o seu verdadeiro interior. mal tinha começado e percebi logo que era uma alegoria.

De facto, o filme retrata muitas questões, grandiosas pela sua polémica, da humanidade e vou referir algumas delas. Primeiramente temos a questão da cultura rácica humana que é por si barbara. Assim, dentro do asilo da quarentena, sem nada com que se preocuparem e reduzidos à anarquia, há um grupo de homens que se apodera do controlo da comida, que iria distribuir consoante o valor de objectos que as outras pessoas dentro do asilo trocariam (o que não fazia sentido algum pois dentro do asilo nada importavam esses bens) e mais tarde em troca de mulheres (está bem patente a brutalidade do machismo). O filme mergulha desta forma na dependência humana dos seus sentidos.

Porém nem tudo é negro: a unidade entre todos os membros do grupo protagonista garante-lhes a sobrevivência e a felicidade rara perante uma conjuntura tão drástica, "como uma família".

Existem outras questões importantes como o racismo (apesar de não se verem uns aos outros, um homem atribui a maldade do outro à sua cor) e a da beleza que apresenta duas vertentes: a física (pois mesmo cegas as mulheres preocupam-se com a sua beleza) e a interior dado que a paixão surge sem barreiras entre uma jovem e um velho.

A sexualidade assume-se como "necessidade fundamental do ser humano", atingindo até proporções brutas e irracionais como já dei exemplo.

Mas a questão principal está patente no fim. O primeiro a ser infectado é o primeiro também a curar-se transmitindo a esperança aos outros. Porém, a única com visão diz: "Vou ficar cega", isto não porque ela efectivamente iria deixar de ver, mas porque o ser humano não dá a devida importância à visão, sendo esta meramente material e superficial. Foi preciso todos cegarem para realmente a protagonista ver as coisas como elas efectivamente são. No fundo somos todos cegos para a vida e para o mundo.

A importância da religião para as pessoas, como factor de esperança e união, é também ela muito importante e o egocentrismo humano patente na fuga e abandono das pessoas infectadas é horroroso e de uma violência tremenda.

O filme é brilhante e como disse o meu amigo José Carlos, "muda a vida de uma pessoa". Um filme de nota máxima, com parecenças com outro que também adorei, "I'm Legend" e que igualmente reomendo a toda a gente. A cena que mais gostei foi a da música que o velho pôs no seu rádio dixando as pessoas no seu choro e luta, unidas, pelo silêncio e fraternidade...
(10/10)

Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Invasões Francesas

(12/06/2009)

(A resistência popular às Invasões Francesas.
A defesa da Ponte de Negrelos.)


Pensaste que ia ser fácil,
não pensaste Napoleão?
Deste caras com a ira indócil,
do povo defendendo seu pão

As tuas invasões foram repelidas,
uma de cada vez.
E a força e glória da pátria sentidas,
pelo orgulho de ser português.


Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

Manifesto à inteligência

(10/12/2008)

Nota: Inspirado na extravagância de Álvaro de Campos e em forma de protesto à minha nota em português, escrevi o seguinte manifesto.

O génio é mau aluno e rebelde!
O génio não passa em exame. Génio tem que chumbar pois o génio é tão génio que ao fazer um exame está a avaliar o professor que não é génio e não o consegue acompanhar.
Os burros é que decoram coisas! Os génios pensam, não decoram! As ciências decoradas são escória e estragam nações! São elas que destroem o mundo e não os ácidos que elas criam! A sistematização constante dos conteúdos é chata.
O génio inova!
O génio é irreverente!
Se o professor fosse génio o génio passaria no exame.
O génio não responde à questão; o génio divaga; o génio teoriza a questão e questiona respondendo.
A Filosofia não é para definir. A Filosofia existe para que possamos viver melhor (mesmo com nota negativa pois Filosofia só é Filosofia com nota negativa!).
E a poesia? Que ridículo! Tenham vergonha na cara académicos! A poesia sente-se! Não se estuda. Não se analisa.
Ai pobre nação que ris ao ouvir “Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!”, do grande Álvaro.
Mas o pior de tudo isto é que a população passa no exame! Exame a quê pergunto eu? À sua mediocridade e vazio mental?
A matemática é a pior ciência do mundo. A Matemática é tão fácil e exacta que se torna complicadíssima. Génio não estuda matemática, pois génio é um ser feliz e génio só vive feliz sem ela.
Génio não fica preocupado com nota negativa e muito menos se esforça para a levantar. Ele tem que ficar na sua genial irreverência até ao fim.
Génio folheia o que já criou milhões de vezes mesmo que pouquíssimo seja, pois génio sabe sempre que é génio por menos coisas que crie, e obra de génio tem tendência a multiplicar-se e ganhar inúmeros sentidos!
Fora com os livros de análise! Fora com as fórmulas e teorias matemáticas! A ferramenta do génio é ele mesmo!
Génio é o mais feliz mas nunca se vê génio algum a sorrir. O sorriso é para os pobres de espírito que dizem ser o sorriso a contracção de músculos faciais necessária à revelação da sua dentadura branca de marfim, quando sorriso é escrever a palavra génio.
A inteligência não existe. E se existisse não poderia ser avaliada pois a avaliação é uma amostra de falta de inteligência. Existe sim a felicidade, a elevação mental, a personalidade e uma coisa que existe no génio que não sei explicar bem o que é, mas que existe e não é inteligência.
Génio morre pobre, imundo e sem família, sem casa, e principalmente morre sem saberem que é génio ou mesmo sem ele próprio saber que é génio.
Génio não faz manifestos à inteligência coerentes e lógicos pois a natureza do génio é, por si, desorganizada. Génio não faz manifestos à inteligência sequer!
Um génio lê um manifesto à inteligência e rasga-o, de ridículo, antes sequer de acabar de o ler. Mas no fundo está feliz porque sabe que é génio tal e qual como o defino.
Génio nunca admite ou se orgulha de ser génio porque se assim fosse não seria génio.
Ninguém quer ser génio porque o génio é superficialmente infeliz. Mas os que são génios querem ser génios porque só eles conhecem e podem avaliar o conceito de felicidade.
Génio morre cedo, mas génio morre vivo!
Todos são e podem ser génios desde que seja génios!
A inteligência não existe! O génio não existe! Existe vida e existe maior ou menor genialidade de a viver.
Tiago Vilarinho
Retirado do Moleskine

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Poetas Malditos

(12/06/2009)

Sim, eles querem que tu leias,
mas o que eles escrevem
para te prenderem nas suas teias,
através dos que os servem.

Para contra isso lutares,
em teu espírito coloca uma lente.
Pois para estes demónios travares,
tens que cultivar a tua mente.


Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

Quem quer ser milionário?

Filme (21/06/2009)



O número 7 marca este filme. 7 óscares da Academia já acusam tratar-se de um bom filme, número curioso pela sua simbologia que se enquadra no ponto-chave do filme: o destino.

Com um elenco composto por miúdos de uma favela indiana o filme funciona como crítica à sociedade indiana ao demonstrar as dificuldades de uma sociedade com uma enorme clivagem social.

Tudo está conjugado perfeitamente nesta obra-prima do cinema. os planos das vidas dos protagonistas revelados em flash-back com as perguntas do concurso que se apresentam coincidentes a eles - dessa forma, Jamal, um míudo pobre da favela, movido pela determinância em ficar com o amor da sua vida, consegue ganhar o famoso concurso, o que lhe dá uma oportunidade de salvar a sua amada e ser feliz.

Uma história repleta de ternura e amor em condições inóspitas, e uma forografia excelente tornam este filme num filme igualmente excelente. (9/10)

Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

terça-feira, 23 de junho de 2009

O Guarda-chuva e o seu Humanismo

(18/02/2009)


(Retirado do blog Rabiscoscasuais)


Dia típico de inverno em Vila do Conde é dia de um vento irritante (mas este vento existe durante todo o ano), de despentear o cabelo, ou melhor, de metamorfoseá-lo para um estado irreconhecível como tal, e de uma chuva grossa que “cola” as roupas à pele e põe qualquer um a perguntar-se: “Serei Homem ou serei fonte?”. “Esqueci-me do guarda-chuva!”, com a adição de um palavrão ou não conforme for o grau de irritação, é automático pois este precioso e super simples objecto, disponível numa qualquer loja dos chineses pelo simbólico preço de cinco euros, representar já, uma necessidade em dias de chuva tal como comer pipocas de boca aberta é necessidade para quem vai ao cinema à sexta à noite. Mais do que uma necessidade porém, eu idealizo este objecto como uma prova de Humanismo, um triunfo da Humanidade.

Adoro que chova, pois assim munido de guarda-chuva, tenho uma oportunidade de dar troça à Natureza, passeando calmamente, inatingível pelos seus mísseis (isto se o guarda chuva da loja dos chineses estiver a ser usado com um espaçamento de três dias da sua compra, período médio de vida do objecto). Mas agora que estudo nas aulas de português “Os Lusíadas”, tal atitude ainda mais gozo me dá, pois reforça a minha tese a ideia de que um “pequeno bicho da Terra” a domina, controla e tem o dever de a proteger (mas isso já é outra conversa).

Assim apostava que se Camões fosse meu contemporâneo incluiria umas estrofes nos seus Lusíadas XXI a exaltar este objecto tão simples, tão inteligente, tão humano.

É também curioso como as coisas hoje em dia se multiplicam, padronizam, uniformizam. De facto, encontramos guarda-chuvas de todas as cores, feitios, sabores, preços e em todo o lado. O guarda-chuva é, de facto um objecto mais que vulgar e o pior é que sinto que ninguém lhe dá a devida importância e a tenção (um dia mundial do guarda-chuva seria óptimo, fica a sugestão) nem percebe como é importante para a Humanidade! Quase ninguém (e eu próprio me incluo nessa fatia) sabe inclusive um mínimo da sua história e muito menos o nome do seu inventor.

Povo ingrato, pobre e mal agradecido, adormecido. Oxalá existisse um guarda chuva que nos protegesse da distracção e da morte mental. Oxalá esse guarda-chuva apenas se fechasse nos sonhos e filtrasse as condições para sonharmos mais e melhor. Oxalá fosse chuva aquilo que nos desatenta. Oxalá fosse chuva o infortúnio.




Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

“Metamorfose”, de Franz Kafka

Livro (27/05/2009)



Desconcertante, do princípio ao fim, é como melhor caracterizo esta grande obra deste grande escritor.

Um homem, dedicadíssimo ao seu emprego que, da noite para o dia, se transforma num horrendo insecto.

Por um lado retirei uma crítica à abstracção total das pessoas em relação a elas próprias, pois Gregor Samsa, preocupado unicamente com o seu emprego quase nem se incomoda com o seu novo estado.

Gregor trabalhava para toda a família, mas mantinha com os membros desta uma relação fria e afastada, como se apenas uma obrigação familiar e a única réstia de auto-estima que possuí com o facto de por isso se sentir importante motivasse o seu contacto com eles.

A tristeza que a obra evoca atinge proporções brutais: vemos a família rejeitar Gregor, que além de pertencer àquela família, a sustentava, unicamente pelo seu horrendo aspecto (que pode ser uma metáfora de alguma horrível doença por exemplo).

Pode-se porém retirar do livro outra moral, inserida na ideia de mudança: perante a desgraça que se abate sobre a família, esta une-se, torna-se mais forte e sobretudo, os seus membros passam a ter que sustenta-la pelos seus próprios braços. O que é impressionante é que tudo isto acontece perante a abstracção parcial da morte de Gregor, ferido e abandonado pela sua própria família.

É um livro poderoso, que mexe com os sentimentos e emoções mais humanos, sob um linguagem esplêndida que transmite um ritmo quase mecânico e que entra numa comunhão perfeita com a temática da obra.

Simples e acessível, rápido de se ler e profundamente simbológico e emblemático. Um livro imprescindível.




Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O dia de amanhã hoje não vem

(09/06/2009)

Sempre me preocupei com o Futuro,
e com o Passado também.
Mas hoje sou cego e mudo,
pois estou no presente e sinto-me bem.

Ninguém sabe o que amanhã virá.
Não vale a pena estar com agoiros.
Se me tirarem estes cabelos loiros.
Isso só o tempo o dirá.

O tempo gostaria de enfrentar.
Talvez por isso me achem louco,
mas o momento tenho que aproveitar,
por isso, ó futuro, espera mais um pouco.



Dedicado a Inês Eusebio
Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

Anjos e Demónios

Filme (27/05/2009)



Mais um bom papel de Tom Hanks, numa interpretação dos bons romances históricos de Dan Brown. Este gira em torno do fanatismo religioso, já que é um camarário fanático do Vaticano que faz ressurgir a velha lenda dos Illuminati para impedir que a ciência se interponha no caminho da religião. (7/10)

Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

domingo, 21 de junho de 2009

Happy Tree Friends - violência virtual em estado puro

(20/03/2009)






Assisti, durante uma apresentação em Àrea de Projecto, a mais um episódio curto da série "Happy Tree Friends", que consiste na extripação, desmembramento e morte aterrorizadamente violenta dos bonecos desenhos animados mais queridos e coloridos que é possível imaginar. É a forma de violência gratuita e pura mais incrível que alguma vez conheci.

É inimaginável o horror dos banhos de sangue que ainda se torna mais complexo quando coajugado com a expressão de felicidade daquele ambiente animado. Horrosamente inigualável.
Site oficial do Happy Tree Friends onde podem ver vídeos da série.


Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

sábado, 20 de junho de 2009

Rio Ave

Rio Ave (17/06/2009)


Este rio é o reflexo de tudo.
Outrora criador de nave,
é agora surdo e mudo.
É Portugal. É Rio Ave.

Que mistérios encareras,
nesse teu tom opaco?
Glorioso noutras eras,
agora frágil. Fraco.

Foste companheiro da glória
que alcançou Portugal.
Agora apenas memória.
O mesmo destino fatal.

Mas a essência das coisas não muda.
Ela basta para que tudo,
de novo se impluda.

És agora um rio morto,
que apenas revela podres.
Mas já foste seguro porto
que rivalizou com a Flandres.

Aí no fundo, a vontade
ainda sobrevive.
Pela tua hereditariedade,
te peço: Revive!

Tiago Assis Vilarinho
retirado do moleskine

Último Samurai

Filme

Protagonizado por um grande actor (Tom Cruise) o Último Samurai é um bom filme que não me canso de ver.

Alia um bom retrato histórico da industrialização do Japão e e a caracterização dos Samurai, os guerreiros de elite e senhores feudais do velho Império Japonês com um romantismo e sensacionismo que rapidamente desperta a emoção dos espectadores mais sensíveis ao tema (como eu).

Uma boa produção e elenco, um filme recomendado.
(minha classificação: 8/10)

O meu outro mundo

(12/06/2009)

É com as letras que me encontro,
ou que posso de mim fugir.
É com elas que demonstro
o leão no meu peito rugir.
Como a fome do peixe que o gato mia,
é a minha fome ansiosa pela poesia.

Tiago Vilarinho
Retirado do Moleskine

Zeitgeist

Este polémico mas muito famoso documentário influenciou a faceta que mais desenvolvi na minha personalidade este ano.

Uma teoria da conspiração baseada no domínio global por uma elite de homens sem escrúpulos, é, à partida, um tema que não vai ganhar adeptos, sobretudo entre as classes mais conservadoras e/ou cépticas. Porém qualquer apreciador de arte o vai reconhecer como tal na medida em que está repleto de sedução (é até acusado por alguns como uma forma de manipular baseando-se na ideia de estarmos a ser manipulados) e muito bem feito.

Mas quem o vê até ao fim vai certamente sentir um arrepio na espinha. Não se sabe nem se poderá saber se aquilo que lá está é verdade ou não, mas a ideia principal do zeitgeist e a sua interpretação é, para mim, bem mais complexa.

É o humanismo. Sentimos que às vezes nos esquemos de ser humanos, ou simplesmente o que isso significa. Cépticos ou não vale a pena pois antes das nossas orientações conceptuais temos todos algo em comum que não podemos nunca negar. Somos humanos.

O zeitgeist evoluiu para um conceito e até um movimento, os curiosos depois de o ver procurarão informações sobre isso.

Podem ver aqui o primeiro documentário (existem actualmente dois mas o primeiro é o mais interessante sem dúvida):

sexta-feira, 19 de junho de 2009

D. João V

(10/06/2009)


- Dos Açores, mais panos e frutos!
De Macau, porcelanas e laçados!
De Diu, rubis e diamantes brutos,
e de Melinde móveis e bordados!

Trigos, açucares e licores,
e mais conventos e igrejas!
Para albergar os meus amores,
e encher minhas bandejas!

Mais técnicos para o aqueduto.
Imitemos de Roma a basílica.
E aumentem o viaduto!
Quero ser uma referência bíblica!

Móveis tauxiados de Melinde,
e do Brasil, tabaco e Copal,
Aguardentes para brinde...
- Meu senhor, e Portugal?

- Isso agora não interessa!
Isso é outra conversa!
As paredes do convento,
também não sou eu qu'as pinto!
Mas estais desatento?
Sou el-rei D. João V!

Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

Exames Nacionais


Estamos todos (quando me refiro a todos refiro-me aos estudantes do básico e do secundário) em época de exames. Um período complicado em que vemos o sol que nos convida à praia e as noites quentes de verão pela janela, sendo que as barras desta cela são os livros e a secretária.

Porém, bem sabemos que não é drama nenhum, apesar da comunicação social relatar histórias trágicas que se comparam a verdadeiros filmes de terror (vi a capa da Sábado hoje por exemplo, que apresentava o testemunho de jovens que consumiam drogas pesadas para se manterem acordados para o exame, algo que tenho muita curiosidade em ver).

Muitos sentem vontade, nesta altura, de engrossar as filas daqueles que se apresentam anti-exames - A JCP, por exemplo.

A minha opinião é, porém bastante contrária.

Apesar de alguma coisa poder correr mal e isso ditar a nossa aprovação ou o ingresso no ensino superior, estes exames são a única maneira de todos os alunos a nível nacional estarem em pé de igualdade. É a única oportunidade que tenho de comparar os meus custosos resultados com outros que, por terem oportunidade de andar no ensino privado ou numa escola que não partilha da mesma exigência da minha, os igualaram ou superaram sem tanto esforço.

Outra questão engraçada que noto cada ano, é que os exames nacionais são cada vez mais fáceis. "Facílimos!". "Básicos!". Após ter realizado o meu exame de português e ter constatado que já perdera um valor nas escolhas múltiplas senti-me deficiente a nível mental. Juro que me sinto mesmo um cataclismo a nível nacional e estou seriamente a pensar o suícidio como forma de me livrar desta culpa, deste desnível que apresento para com os meus colegas.

O que é certo é que a qualificação em Portugal é o que todos sabemos que é, mas que o típico português apresenta-se em qualquer situação como tipicamente deve: Típico.

A desvalorização, o clima de "facilidade" que se gera, o bota-abaixo, o deixa andar, o faço depois, confirmam uma desilusão quando os resultados saem.

Fáceis ou não, tenho a certeza que aquilo que aprendi, o meu mérito pessoal e o meu esforço valerão.

“Memorial do Convento”, de José Saramago

Livro (17/04/2009)



Obra obrigatória da disciplina de português, e, ainda bem, pois a fama que tem no mundo juvenil não é propícia à sua leitura, e assim, fui obrigado a lê-la, obrigação que rapidamente deu lugar a pura satisfação.

O meu primeiro contacto com a obra foi complicado pela habituação à escrita de Saramago e admito que demorei meses a terminar de o ler, mais aí também entram, para além da preguiça, factores relacionados com a vida quotidiana e as suas paralelas obrigações.

Porém, no final eu apenas tenho que dizer, entre as poucas palavras que me restam depois do deslumbramento que a obra me causou, que a obra é magnífica, superior a qualquer outra que tenha lido a todos os níveis.

Apesar da história em si não me ter deslumbrado inicialmente (note-se que a mistura entre ficção e realidade não surtiu em mim um bom efeito no início), o que é certo é que o tom mágico que ela emana dão-lhe um valor inigualável. A mensagem é brilhante, além de super interessante: Por um lado temos uma forte crítica social e religiosa – a maneira abastada como vive o rei e o resto da corte em detrimento das massas que sofrem na pele a sua opulência (e note-se também a ponte histórica com os dias actuais de Saramago, na época da escrita do romance, e a luta contra o fascismo de Salazar), a atrocidade dos autos-de-fé e o descumprimento das regras da moral religiosa por parte dos membros das suas congregações; a aproximação ao povo, pobre, mas não por isso menos “culto”, em que se vêm filosofias e histórias engraçadas que nos fazem pensar e que rivalizam com a de muitos que, por melhores condições deveriam ser superiores intlectualmente; a questão primordial da vontade do Homem como a sua essência, o motor para se alcançar o inalcançável; o amor, para uns tão verdadeiro, puro e natural que quase selvagem (Baltasar e Blimunda) e para outros contratual e falso (D. João V e Rainha Maria Ana).

Mas é sobre a maneira como a acção é escrita, os diálogos e reflexões, o caminho remoinho que toma a participação do narrador e todos os pormenores da escrita, que a obra adquire maior valor. Esta obra é monstruosa pela positiva, e com ela consegui entender o que é um prémio Nobel e sobretudo qual a sua importância para o legado cultural da Humanidade.

Tiago Assis Vilarinho

Retirado do Moleskine

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Auto-biografia super curta

Maluco.

Seria talvez a média de todas as caracterizações possíveis e imaginárias que outras pessoas imediatamente diriam de mim. Tenho quase a certeza que de seguida soltariam uma gargalhada que comprometeria o seu sentido restrito... ou talvez não. Mas de qualquer uma das formas sentir-me ia contente com o resultado do inquérito. Porquê? Simples, a definição de "maluco" numa sociedade de comportamentos cada vez mais massificados como a nossa, será: Diferente.

Se pedissem de seguida uma qualidade e um defeito, não sei bem ao certo o que apontariam à primeira. À segunda, a velocidade da resposta rivalizaria com a da luz: Egocêntrico.

Porém isso talvez se relacione com uma qualidade que tenho - Não ter medo de ser e assumir na plenitude quem sou - pois de facto, o orgulho que tenho na qualidade que mais estimo das que tenho, leva as pessoas a referir que sou egocêntrico.

Penso que poderia escrever neste tópico bastante mais. Mas as vezes as coisas ganham valor pela sua simplicidade, ou pela avaliação que os outros fazem delas. Talvez daí tenha escrito a minha auto-biografia baseando-me numa possível interpretação minha de outras pessoas. Será uma manifestação anti-egocentrismo? Ou exactamente o contrário?