terça-feira, 23 de junho de 2009

“Metamorfose”, de Franz Kafka

Livro (27/05/2009)



Desconcertante, do princípio ao fim, é como melhor caracterizo esta grande obra deste grande escritor.

Um homem, dedicadíssimo ao seu emprego que, da noite para o dia, se transforma num horrendo insecto.

Por um lado retirei uma crítica à abstracção total das pessoas em relação a elas próprias, pois Gregor Samsa, preocupado unicamente com o seu emprego quase nem se incomoda com o seu novo estado.

Gregor trabalhava para toda a família, mas mantinha com os membros desta uma relação fria e afastada, como se apenas uma obrigação familiar e a única réstia de auto-estima que possuí com o facto de por isso se sentir importante motivasse o seu contacto com eles.

A tristeza que a obra evoca atinge proporções brutais: vemos a família rejeitar Gregor, que além de pertencer àquela família, a sustentava, unicamente pelo seu horrendo aspecto (que pode ser uma metáfora de alguma horrível doença por exemplo).

Pode-se porém retirar do livro outra moral, inserida na ideia de mudança: perante a desgraça que se abate sobre a família, esta une-se, torna-se mais forte e sobretudo, os seus membros passam a ter que sustenta-la pelos seus próprios braços. O que é impressionante é que tudo isto acontece perante a abstracção parcial da morte de Gregor, ferido e abandonado pela sua própria família.

É um livro poderoso, que mexe com os sentimentos e emoções mais humanos, sob um linguagem esplêndida que transmite um ritmo quase mecânico e que entra numa comunhão perfeita com a temática da obra.

Simples e acessível, rápido de se ler e profundamente simbológico e emblemático. Um livro imprescindível.




Tiago Assis Vilarinho
Retirado do Moleskine

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